quinta-feira, 2 de junho de 2011

DONA NENÊ

Olá, internautas

Antes de começar a postagem dos contos do livro, envio para vocês algumas palavras da autora Tati Baruel.

Abraços

Corpo Seco
                                                

Estava aqui vendo as fotos da prosa com a Dona Nenê.

Câmera no tripé, café na mesa e tartaruga no chão.

Dona Nenê montava a cavalo aos oito anos, brincava de descer o barranco na folha de bananeira, danada que só ela.



Lembrei da Flora, minha sobrinha. Se ela vivesse naquele tempo, seria a melhor amiga da Dona Nenê. 

Quando eu era criança queria ser dançarina, mergulhadora, bateirista, astrônoma,  cantora,  química, paraquedista,  mágica  e  escritora.

Dessas profissões, teve uma que não desgrudou de mim: a de contar histórias. E com ela, eu podia viver todas as outras.




Aí eu fui crescendo, ouvindo e escrevendo histórias.

Nessa “ouvição”, aos poucos, a gente vai aprendendo o que é simples. E o simples é o que importa.

A gente descobre que o importante não é ser inteligente, mas ser sabido.

Aprende que a melhor lição não vem das palavras, mas do silêncio oco da árvore.



Percebe que ter um amigo é mais precioso que todo o reino da Mãe d’Ouro.

Começa a gostar das pessoas e da vida, de um jeito diferente. Sem pressa e sem firula. 

Bonitas por serem imperfeitas. 

Os prédios desabam, as roupas apodrecem, mas as histórias são bichinhos de mil pernas. Cai uma perna, nasce outra mais esquisita no lugar.

Porque as histórias saem sempre de pessoas e o que vale é isso.

Não são as coisas que a gente junta, mas as flores que a gente espalha.


Às vezes, a gente não cabe dentro da gente. Ainda assim, cada pessoa traz em si todas as histórias do mundo. 

E se a gente olhar direito, no fundo do olho do contador, consegue enxergar todos os contadores que vieram antes dele.

Ouvindo histórias, a gente aprende a ter coragem na vida,  se camaleoneia. 

Aprende a guardar o tempo no casco da tartaruga e a soltá-lo na água da cachoeira.

Contando e ouvindo histórias, quero fazer da minha vida um desenho tão bonito como o da Flora. E, um dia, ser sabida como a Dona Nenê.

Tati Baruel

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