quinta-feira, 23 de junho de 2011

ROSALVO VALENTÃO

     O povo conta que por aqui os boiadeiros sempre foram valentes. Porém, nenhum mais valente que Rosalvo.

     O homem era bravo, não tirava o canivete do bolso nem pra rezar terço. Tinha uma fé tremenda em Santo Onofre, toda noite punha uma oferendinha pro santo embaixo da cama.

   Rosalvo não tinha medo de nada. Era um homem precavido, andava com um patuá de guiné, arruda e alho. Dizem que tinha o corpo fechado, nenhum mal o atingia e o boiadeiro falava:

     - Ninguém me pega, não tem mundel que me cace!

     Numa noite fria de lua cheia, Rosalvo vinha a cavalo, tocando uma junta de bois, quando deu de cara com uma sombrona.

  Os boiadeiros, numa situação dessas, tiravam o chapéu e chamavam:

     - Valei-me, Nossa Senhora!

   Com Rosalvo foi diferente. Logo que topou com a aparição, firmou a vista. Viu um bichão preto, todo peludo, uma coisa feia de arrepiar. Era o lobisomem!

    O cavalo, que já estava arredio, empinou. O Rosalvo, corajoso que só ele, não pestanejou. Deu um salto e caiu montado na assombração.

     O lobisomem, desnorteado, saiu em disparada.

     Rosalvo valentão segurou forte o bicho.

   Passava árvore, Rosalvo abaixava. O vento vinha gelado e zunia no ouvido do boiadeiro. E o bichão corria.

  Aparecia pedra, buraco, o lobisomem pulava. Os animais que estavam pela frente corriam assustados, mas o Rosalvo continuava firme no lombo do bicho.

    Os pés do lobisomem no chão pareciam trovões. O cheiro do seu pelo vinha forte no nariz do boiadeiro. E o bichão corria!

    Pra encurtar a história, quando chegou na beira do rio Paraíba, o lobisomem parou de repente e o Rosalvo foi jogado lá no meio do aguapé.

   Limpando a lama do rosto, o boiadeiro lembrou que a água é sagrada e nenhuma assombração passa por ela.

     O lobisomem? Parece que está correndo do Rosalvo até hoje. 

                                                    (do livro "Encantos e Malassombras de Jacarehy")

Nenhum comentário:

Postar um comentário