quinta-feira, 9 de junho de 2011

TIANA E QUINZINHO

    

     Na região do Mato Dentro, moravam os irmãos Zé Curió e Tiana, que estavam sempre com o amigo Quinzinho.

    Tiana, Zé Curió e Quinzinho nadavam no rio, ajudavam na roça, montavam a cavalo e passeavam na cidade. Lá, aprendiam com o padre o catecismo, muitas rezas e os nomes dos santos.

   As crianças contavam os dias para ir à cidade e ver a Maria Fumaça. O trem passava apitando e deixando um rastro feito algodão no céu.

   Naquele tempo, tinha muita festa em Jacareí: Festa de São Benedito, de Nossa Senhora do Rosário, do Divino e outras festanças.

     Os três amigos gostavam das rezas, de ver o pessoal dançar catira e moçambique, das cantorias, da comilança e dos doces. 

     Certa feita, o Zé Curió disse que conhecia uma festa encantada, lá do tempo dos escravos. O Quinzinho não acreditou, e até que chegasse o dia, ficou caçoando do Zé.

    No primeiro dia daquela primavera, as crianças brincaram de descer o barranco em cima das folhas de bananeira, jogaram pião e pularam corda até o sol se pôr. Quando a lua já estava alta no céu, Zé Curió levou o Quinzinho pra ver a tal festa.

     Chegando lá, encontraram uma fogueira enorme e vários homens tocando tambor em volta dela. O festejo era muito animado, as mulheres dançavam com as saias rodadas, uma coisa linda!
 
     Durante a festa, foi plantada uma bananeira. Em poucos minutos a árvore cresceu e deu cacho.

     O Quinzinho ficou de boca aberta.

     Todo mundo comeu banana e outras comidas boas que tinham na festa, e o Quinzinho até guardou um biscoito de polvilho pra levar pra casa.

    No dia seguinte, os dois meninos foram pescar no Paraíba e logo que apertou a fome, Quinzinho pôs a mão no bolso pra pegar o biscoito de polvilho. Mas quando olhou, cadê o biscoito? O que ele tinha na mão era um sabugo de milho.

     O Zé Curió riu a valer do susto que o amigo levou.

 Depois disso, Quinzinho nunca mais duvidou do Zé Curió.                                                      
                                           ...

    Tiana e Zé Curió tinham uma avó que se chamava Ditinha. Ela era benzedeira e conhecia as ervas desde o tempo em que tinha sido escrava. Com ela as três crianças aprendiam rezas, simpatias e um jeito bonito de olhar a Natureza.

     Se a vó ia entrar na mata ou colher uma erva pra fazer remédio, pedia licença. A vó Ditinha sempre pedia permissão pra entrar na casa dos bichos, das plantas e de tantos seres de Deus.

     Havia o jeito e a hora certa de colher as plantas. Algumas, a vó  raizeira ensinava que era pra pegar no orvalho da manhã, outras, só em noite de lua nova. Cada uma tinha a sua delicadeza.

     Todo dia, Tiana e Quinzinho aprendiam uma coisa diferente com a  vó Ditinha. Já o Zé ficou mais interessado em tocar sanfona.

                                           ...

     Primavera veio, primavera foi, e o Zé Curió virou um sanfoneiro de dar gosto.

    Tiana e o Quinzinho resolveram seguir o ofício da vó Ditinha.      

     Sempre que alguém ficava doente, com mau olhado, agoniado ou desenganado, os parentes chamavam a Tiana ou o Quinzinho.

     Às vezes, nem precisava chamar. Os benzedeiros iam pra casa da pessoa, antes mesmo de serem avisados.

     A Tiana também era parteira. Só com a reza, ela conseguia virar a criança que não estava do jeito certo para nascer.

   O Quinzinho e a Tiana ainda faziam mezinhas pra curar cavalo, cachorro, pato, cabrito e toda sorte de bicho.

      O tempo foi passando como um rio...

   Os cabelos dos benzedeiros ficaram brancos, as ruguinhas tomaram conta do rosto e eles começaram a ser chamados de vó Tiana e vô Quinzinho.

    Contam que a vó Tiana, às vezes, desaparecia sem quase ninguém perceber. Se a conversa não estava boa na cozinha, ela sumia e logo aparecia no meio do mato, mexendo com a terra.

      E dizem que todo ano, quando era aniversário do vô Quinzinho, sua casa ficava rodeada de borboletas coloridas, até
o anoitecer.

                                                    (do livro "Encantos e Malassombras de Jacarehy")

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